24.8.09

BREGUINHAS DA HORA ^^

Engraçado que, com tanta coisa importante acontecendo no mundo e com o mar de merda - sim, porque lama já não é mais suficiente – que escoa do Senado Federal, ultimamente só encontro disposição para falar de música aqui no Memórias. Talvez eu não esteja encontrando palavras adequadas ou realmente significativas para comentar essas coisas sérias, ou então me cansei de chover no molhado, enxugar gelo, bater panela imaginária contra toda essa pouca vergonha e falta total de respeito com a coisa pública e com os cidadãos deste bendito país...

Voltemos à música.

Quando escrevi sobre os cativos em meu MP4, tive vontade de escrever também sobre uma coletânea que montei e carinhosamente batizei de
Breguinhas da Hora. Nela juntei pérolas dos anos 70 – 80 (por aí) que muita gente adorava cantar quando era criança, mas hoje desconversa, finge que não conhece... ^^

Sei que há alguns intérpretes que não são bregas, mas, em razão da época em que gravaram as canções e de algumas letras um tanto quanto dramáticas, acabam sabendo um pouco a breguice.

E, para manter o substrato breguinha, dedico esse post à minha dileta amiga Jo, escolhida a dedo para gentilmente me baixar os respectivos mp3. Jo, você é
muito gente, cara! Brigaduuuu!

Vamos lá, então! Terezinhaaaaaaaaa!...


Sidney Magal – o ultra-sexy-latin-gipsy-lover!

Este homem era um es-cân-da-lo. As mulheres se rasgavam por ele. Os homens o invejavam. Seu olhar de vou te comer todinha arrancava suspiros e enlouquecia amantes ciumentos.

Ou seja, mais brega, impossível.

Porém, mesmo tendo se transformado no simulacro de uma tia velha botocada, até hoje Magal lota suas apresentações, ainda que em nostálgicas e debochadas Festas Ploc, onde jovens divertidos e tias saudosas (e tios!) dançam alegremente ao som de pérolas como Tenho, O Meu Sangue Ferve Por Você e Sandra Rosa Madalena.




Magazine

Divertidos, debochados, comandados por Kid Vinil, esses músicos, creio eu, foram os pais de um estilo de letra e música utilizado tempos depois por Ultraje a Rigor, João Penca, Inimigos do Rei e até Mamonas Assassinas, cada qual, lógico, com seu jeito próprio de ridicularizar o cotidiano.

O Magazine tem dois clássicos, Tic Tic Nervoso e Eu Sou Boy, sendo que o primeiro hit é a faixa número dois de minha coletânea. E, engraçado ou não, quer você os ouça com os ouvidos dos anos 80 ou com os dos anos 2000, o contexto permanece exatamente o mesmo.

Ninguém merece.

Byafra – um looshoo!

Confesso: somente ao pesquisar imagens para este post descobri que o nome deste phopho que fazia gritar as menininhas dos anos 80 é grafado com esse charmoso y.

Supertendêncya.

É claro que qualquer coletânea brega que se preze necessita terminantemente abrigar o maior hit suspeito de todos os tempos: Sonho de Ícaro. Fale sério, não minta para mim: se você é contemporâneo meu, duvido que nunca tenha tentado, pública ou solitariamente, atingir os agudos que Byafra emite nesta canção.

Ou, então, que não tenha sorrido torto para o sotaque acentuado do jovem cantor nestes versos basilares:

Repetir o amor já satixxxfaixxxx

Dentro do bombom há um licooor a maaixxxx...

Que bonito! Que alegria!! Que beleza!!!

Ciclone – grupo que obedece ao repertório

Quem foi que disse que boybands foram New Kids on the Block? Backstreet Boys? N’Sync? Five?

Uma ova!

Nós tínhamos boybands antes desses pirralhos aí nascerem! Grupos de meninos bonitos (oi?) dançando coreografias marcadas nós tínhamos aos montes nos oitentas e noventas!

E também tínhamos o grupo exemplar, que obedecia ao repertório: Ciclone! Afinal de contas, seu mega hit foi Tipo One Way, que se encaixa à perfeição com uma banda one way, cujo talento e expressividade, graças a Deus, também são tipo one way. Mas, como o mais legal dos anos 80 era justamente a falta de noção quase generalizada de nosso showbizz, vale a pena lembrar do Cicloninho e de seu eterno suuuucessoooo!

Se você estiver deprimido, de mal com a vida, procure no Youtube um vídeo do grupo se apresentando no Cassino do Chacrinha, cantando, é claro, Tipo One Way, onde os meninos estão todos vestidinhos como na foto, de terninho rosa bebê e camisette de paetês pink. Repare na graciosidade e na originalidade da coreografia.

Eu dou um tiro na cabeça se você não se derreter de rir.



Ednardo

Pai do Pavão Misterioso, pássaro formoso... Até hoje essa música me fascina por sua estranheza, tanto literal quanto musical. Parece texto do J. J. Benítez, coisa para iniciado, legado hermético...

Delírio de LSD?

Ôve procê vê.

Erasmo Carlos – Homem Pra Chamar Dirceu

Eh, Tremendão!... Minha prima Luci vai ficar meio emputecida com a presença dele aqui, mas sabe que não fiz por mal: como ela, adoro o tiozão do rock nacional.

Porém, convenhamos: essa história de fazer castelos, em sonhar ser salva do dragão e procurar a espada do seu salvador sozinha no silêncio do seu quarto é mei de lascar a tubulação, não é não? Fala sério... Um Homem Pra Chamar de Seu é brega com vontade!!

E Tremendão aparece duas vezes na minha coletânea, na segunda vez com seu inseparável amigo Roberto Carlos naquele que, confesso, é um dos temas de minha vida: a emobrega Sentado à Beira do Caminho...

Ah, qual é? Não vá me dizer, ó bem resolvido, que você nunca se sentiu como uma merda à beira da estrada encharcada pela chuva? Pois, se não sentiu, ainda vai sentir, ok? Ninguém escapa disso!!



Antônio Marcos – o desperdício

Esse sujeito com cara de mau tinha uma voz poderosa e uma interpretação viva, carregada de emoção. Só que, infelizmente, a certa altura da vida ele danou a beber e... se foi. Claro que a comparação é demasiado extensiva, mas o que aconteceu com Antônio Marcos foi algo tipo Elvis.

Gostava de várias músicas dele, mas uma de que nunca me esqueci foi Eu vou ter sempre você. Como toda boa música breguinha, trata da secular e inescapável dor de cotovelo, mas o faz em termos tão delicados que, comparada às pérolas destinadas às cachorras que, ó desgraça auditiva, grassam pelas rádios, parece até poesia:

Você jamais saberá, querida
A falta que você faz em mim
Meu coração se nega a pensar em outro alguém
Ele não quer que eu seja de mais ninguém
Até o fim dos meus dias
Eu vou ter sempre você comigo
Não adianta eu querer mentir
E por onde eu andar, você vai estar
E nas noites eu vou te sonhar...
Eu vou ter sempre você em mim

Fábio Junior

Sinal dos tempos... esta outra tia velha botocada que ainda diz Brigaduuu por aí já foi gatcheenho e tinha músicas ótimas! Já foi galã tuberculoso de novela de época, já foi galã descolado de novela moderna, já foi Jorge Tadeu...

É, tem gente que hoje em dia diz, careteando, Ih, credo, Fábio Júnior!, mas, nos anos 80, tinha pôster dele no quarto, largava tudo o que estava fazendo porque a novela começou...

Desconversa não!

Porém, Fábio Júnior também tem sua pérola breguinha: Senta Aqui. E quantas piadas infames o título dessa música já não rendeu...

Lindomar Castilho - siniiiissstro

Bem, este sujeito eu não conheço, mas confesso que não fui com a cara dele logo de primeira.

Analise o naipe da criatura. Não tem ar de quem está doido para passar alguém para trás da forma mais inescrupulosa possível?

Fiquei sabendo de sua existência quando procurei o autor/intérprete de Você é Doida Demais, música hilária e supra-sumo do brega que é tema de Os Normais; e, também, porque ele é ostensivamente nomeado naquela canção dos Titãs, Nome aos Bois, ao lado de Garrastazu, Stálin, Franco, Nixon, Delfim, Adolf Hitler, dentre outros.

A julgar pelas companhias, percebe-se que este Lindomar Castilho é pessoa fina e de bem.

Desanimei até de procurar saber mais sobre ele. Melhor só ouvir a música e dar risada com ela. Pronto.

Jane & Herondi – o amor é lindo

Eles formavam a dupla Açúcar & Afeto de minha infância. Eu e minhas amiguinhas, bando de simpáticas criaturinhas à-toa e bonitinhas, gostávamos de imitá-los, fazendo covers sofríveis de Não Se Vá, um dos maiores hits bregaglicosados da história...

O maior problema é que sobejavam Janes e não havia sequer um Herondi – porque os meninos estavam todos ou jogando futebol, ou andando de bicicleta, ou simplesmente não fazendo nada, e por coisa alguma nesse mundo pagariam o mico interestelar de cantar com meninas algo que dizia Não me abandone por favor, pois sem você vou ficar looooucooo...

Só a título de curiosidade, me parece que Jane e Herondi estão juntos até hoje. É não se vá MESMO.

Maysa e o mundo aos pedaços

Antes que chovam as pedras, digo e afirmo: Maysa não é brega. Nunca foi.

O único motivo para ela estar entre minhas Breguinhas da Hora é por eu desconhecer outro intérprete para Meu Mundo Caiu, auge do sofrimento dramático em forma de música. Além do mundo já estar caído, a carga emocional com que Maysa reveste sua voz para nos dizer isso torna a situação ainda mais insustentável e desesperadora...

Tânia Alves – a nova voz dos boleros

Bolero, em si, já flerta com o brega, ainda que seja ótimo para dançar. Tânia Alves, em si, sempre flertou com o brega, ainda que sua voz afinada seja um agrado para os ouvidos e também uma diversão, quando interpreta Ronda – que é o clássico bas-fond do cancioneiro brega pátrio! Veja só essa estrofe auto-explicativa:

Porém, com perfeita paciência
volto a te buscar, sem encontrar,
bebendo com outras mulheres,
rolando dadinhos, jogando bilhar.
E nesse dia, então,
vai dar na primeira edição:
Cena de sangue num bar da Avenida São João...

Garçom, mais uma dose! Pura, dupla e sem gelo!

Vanusa – a voz das Bee

Vamos remexer no mofo, agora: sábados à tarde, programa do Bolinha, quadro Eles & Elas: quando não aparecia uma transformista looshoo batendo cabelo e dublando as estrofes poderosas e veementes que Vanusa declamava?

Hoje eu vou mudar, sair de dentro de mim e não usar somente o coração,
parar de contar os fracassos, soltar os laços e não perder as amarras da razão,
voar livre com todos os meus defeitos pra que eu possa libertar os meus direitos
e não cobrar dessa vida nem rumos e nem decisões.

Mudanças, inigualável clássico brega para sair do armário!


Barry Manilow- Copacacuba

Gostou do naipe da figura? Pois esse é o indivíduo cujo hit, que mais parece roteiro de novela da Televisa, encerra minha coletânea de breguinhas. Copacabana tocou em tudo quanto é disco, foi topo de paradas de sucesso nos anos 70, se não me engano, e há pouco tempo foi tema de novela bregalatina, porém nacional... a impagável e maluca Kubanacan.

Copacabana conta a trágica história da showgirl cubana Lola, que enlouquece quando seu amante Rico é assassinado dentro do clube onde ambos trabalhavam. Porém, essa canção também pode ser trilha sonora de Star Wars...

Sim, amigo nerd jedi de plantão, procure por Star Wars Cantina no Youtube e divirta-se! Pode ir com fé que a dica é boa!

Menções honrosas

Três artistas aparecerão aqui como menções honrosas porque seus mp3 foram obtidos, infelizmente, tempos depois de eu ter fechado a coletânea. Vamos a eles:


Kátia – a meiguice em pessoa

Esta jovem cega de voz macia era o xodó das tardes de sábado quando eu era criança. Sempre que aparecia na TV com seu violão e seu jeito tímido, todo mundo parava para ouvir. Dizem que era afilhada musical de Roberto Carlos, mas não sei se é verdade. E hoje em dia não se tem idéia de onde ela está, se ainda canta... Acho que não.
Porém, estou certa de ainda há quem se lembre de Qualquer Jeito e Não Está Sendo Fácil – puros hits de dor de cotovelo, claro!

Claudinha Telles – preciso, mas não consigo te esquecer

Não sei de sua carreira, se fez mais sucesso, ou não... Mas, sua presença aqui se deve única e exclusivamente a uma lembrança particular de infância (olha o mofo!!): uma faixa de trilha sonora da novela Locomotivas, que eu sabia cantar de cor e salteado, uma das coisas mais bregas que já passaram por nosso cancioneiro: Eu Preciso Te Esquecer!!

Lembrando o refrão:

Já não tem por que chorar se eu sei que te perdi
E a mágoa que você deixou só faz eu te dizer agora
Eu preciso te esquecer, e ter que seguir sem pensar em você
Uh, uh, uh...



Nilton César – Roberto Carlos dos pampas

E pensar que eu tinha esse LP!! Não me lembro mais quem mo deu, mas ele quase desgastou de tanto que eu o ouvi – ora, pessoas, dêem-me o devido desconto: crianças têm estranhos gostos e Frank Sinatra ainda não havia cantado no Maracanã!

Além do que, por mais que Nilton César flerte e até mesmo às vezes se case com o brega descarado, duvido que alguém não sorria com carinho para a delicada gentileza apaixonada de A Namorada que Sonhei:

Receba as flores que lhe dou, e em cada flor um beijo meu

São flores lindas que lhe dou, rosas vermelhas com amor

Amor que por você nasceu

E seja assim por toda a vida, e a Deus mais nada pedirei

Querida, mil vezes querida, deusa na terra nascida

A namorada que sonhei

No dia consagrado aos namorados, sairemos abraçados por aí a passear

Um dia no futuro então casados, mas eternos namorados

Flores lindas eu ainda vou lhe dar...

Vejam bem, popozudas, cachorras, boladonas, atoladinhas e enfiadas deste Brasil atual: isto sim é que é amor... Brega, não o nego; mas ainda assim gentil, sincero e verdadeiro!

Um comentário:

Marcos disse...

Que pobreza de conhecimento musical, que pobreza de blog...

Quem quer saber do que você não sabe?