16.10.11

OSCAR WILDE


Aos olhos da sociedade, e isso vem de mim, dou a impressão de ser apenas um dândi diletante – é imprudente mostrar seu coração ao mundo. Ora, assim como maneiras sérias são o disfarce do tolo, a extravagância com ares de trivialidade, de desenvoltura e de indiferença é o disfarce do homem sério.
 Numa época tão vulgar como a nossa, todos precisamos de máscaras.

Nesta mesma data, no ano de 1854, nascia em Dublin o extraordinário Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde.

Controverso, paradoxal, provocador, Oscar Wilde não temia ser diferente, ter seu próprio estilo, defender publicamente suas idéias consideradas imorais e arrogantes pela sociedade vitoriana em que era obrigado a viver.

Dotado de prodigiosa inteligência, dificilmente acompanhada por seus pares, Wilde era versado em línguas antigas, filosofia, arte e poesia. Sua sensibilidade aguçada o levava sempre em direção ao bom gosto, à delicadeza e à cultura. Amava as flores – principalmente os lírios –, os tecidos finos, a boa mesa, as companhias inteligentes e estimulantes. Chegou a ser adorado, adulado e endeusado pela sociedade londrina – a mesma que o atirou à Justiça e ao cárcere, anos depois, acusado de atentado ao pudor por ser homossexual.

Arruinado tanto moralmente como financeiramente, doente e deprimido em virtude dos dois anos em que esteve encarcerado, Oscar Wilde morreu em Paris, sozinho e na miséria, aos 46 anos. Porém, com o passar dos anos, suas obras foram “redescobertas” em toda a sua genialidade e beleza, e o nome de Wilde foi reabilitado – de certa forma mais no contexto social, porque aqueles que conheciam sua arte e seu gênio nunca deixaram de admirá-lo como artista.

Para mim é extremamente difícil escrever sobre Wilde algo que eu considere à sua altura; por isso, para quem desejar conhecer melhor sua vida, seu pensamento e sua arte, recomendo a leitura da biografia Oscar Wilde, escrita por Daniel Salvatore Schiffer e lançada pela L&PM, e também das próprias obras de Wilde, desde o famoso O Retrato de Dorian Gray até o pungente De Profundis, escrito enquanto esteve confinado na Prisão de Reading.


E, por fim, deixo que o Poeta fale por si:

Tratei a arte como a suprema realidade e a vida como uma mera ficção. Despertei a imaginação do século em que vivi, para que criasse um mito e uma lenda em torno de minha pessoa.

O amor é alimentado pela imaginação, através da qual nos tornamos mais sábios do que sabemos, melhores do que nos sentimos, mais nobres do que somos, capazes de ver a vida como um todo; através da qual, e só através dela, chegamos a entender os outros tanto em sua relação real quanto ideal. Só o que é superior e superiormente concebido pode alimentar o amor, mas qualquer coisa alimentará o ódio.

Lamentar as experiências vividas é uma forma de impedir o próprio desenvolvimento. Negá-las é colocar uma mentira nos lábios da própria vida. É nem mais nem menos do que a negação da alma.

Pois assim como o corpo é capaz de absorver toda espécie de coisas, tanto as mais vulgares e impuras quanto aquelas que um sacerdote ou uma visão tenham purificado, convertendo-as em atividade ou força, no movimento de belos músculos e na moldagem da carne mais delicada, nas curvas e cores do cabelo, das pálpebras, dos olhos, assim também a alma possui funções nutritivas e pode transformar em nobres sentimentos e paixões elevadas coisas que seriam, por si mesmas, baixas, cruéis e degradantes. E, mais ainda, pode encontrar nelas suas mais grandiosas formas de afirmação e muitas vezes revelar-se com mais perfeição através daquilo que pretendeu denegrir ou destruir.

11.10.11

BIBELÔS


Dias atrás, durante meu sagrado horário de lanche no trabalho, encontrei abandonada sobre uma mesa um exemplar da revista Nova. Sem ter mais o que fazer, e acompanhada por um belo sanduíche de mortadela e um copo de café quentinho, abri a revista a esmo para ver qual extraordinária revelação da última semana ela me traria. Caí numa página com o sugestivo título O Que Eles Gostam...

Meu alerta vermelho interior foi acionado imediatamente: não há sequer uma vez em que eu perca meu tempo em ler esse tipo de coisa e não me emputeça. Porém, como mais do que burra eu sou teimosa, ou talvez mais do que teimosa eu sou burra, ignorei o referido alerta vermelho e, dando mais uma mordida no meu sanduíche, comecei a ler o artigo, dividido em várias seções onde sujeitos randômicos, entre 25 e 45 anos, opinavam sobre aquilo que lhes agradava (ou não) em uma mulher.

Um dos sujeitos dizia que, para ele, mulher tinha que ser delicada, educada. Nada o desagradava mais do que levar uma mulher para jantar e ela comer tanto quanto ou mais do que ele; dava-lhe a sensação de que estava saindo com um amigo ou um colega de escritório. E se caso a mulher se comportasse daquele jeito num primeiro encontro, ele perdia o interesse por ela na mesma hora.

Avaliei o tamanho de meu sanduíche de mortadela – lanche mais ogro, impossível – e, depois de uma boa dentada, prossegui com a leitura.

Outro sujeito afirmava que não há nada mais brochante do que sair com uma mulher que não sabe manter o clima gostoso de romance. Didático, explica que essa mulher é aquela que, durante uma conversa, em vez de deixar o papo fluir, ela insiste em debater qualquer assunto, dar sua opinião sobre tudo e discordar das coisas. Enfático, arremata dizendo que se ele quisesse debates ou discussões teria saído com os amigos, e não com uma gata.

Nesse momento lembrei-me de que geralmente sou tida como a do contra, mesmo quando minha intenção não é essa em absoluto. Balancei a cabeça e fui adiante.

Um empresário de quarenta anos afirmou adorar mulheres que ele pode proteger, envolver em seus braços e fazê-las caberem inteiras em seu abraço; uma mulher pequena é uma mulher adorável. Ao contrário, uma mulher alta, grande, não lhe dá a mínima vontade de proteger, e sim lhe causa a impressão de que está saindo com outro homem.

Eu meço 1,73. E, como sou burra, ou teimosa, ou ambos, continuei lendo.

Ainda seguindo a linha física, o próximo homem falava de sua atração por mãos femininas. As mãos que lhe agradam numa mulher têm que ser pequenas, delicadas, macias e sempre com as unhas bem feitas. Ele tem pavor de mulher com mãos grandes, que parecem patas... ele foge delas, porque, afinal de contas, quem tem que ter mão grande é homem (a revista aqui insere “risos”).

Eu também rio, amarelo, ao perceber que da linha do meu pulso até a ponta de meu indicador são exatos dezoito centímetros.

Por fim, a última opinião que leio é a de um indivíduo de 38 anos que, seguindo os passos do anterior, tem paixão por pés femininos... aqueles pezinhos pequenos, macios, delicados, que ele adora beijar. Logo que ele conhece uma mulher, a primeira coisa em que repara é no tamanho dos pés; se ela tiver pés grandes, ele a descarta na hora; quer coisa mais desagradável do que uma mulher que calça como um homem?

Desagradável como eu, que calço 38 / 39?

Emputecida, larguei a revista de lado. Mas que porra é essa, meu Deus? O que esses homens têm na cabeça? Descartar uma mulher só porque ela tem os pés grandes? Porque ela gosta de comer? Porque ela não tem medo de pensar por seu próprio cérebro e expor suas idéias e opiniões? Porque ela tem a altura deles e pode olhá-los diretamente nos olhos?

Em pleno século XXI esses homens não querem uma mulher, eles querem um bibelô; uma coisinha linda, meiga e gostosa que podem exibir na rua e usar para fazer inveja nos amigos, porque estão pegando.

E me assusta pensar que muitas mulheres alteram suas personalidades, se matam em tratamentos estéticos e se transformam em bibelôs justamente para agradar a esse tipo de homem, apenas por medo de não serem aceitas e, por isso, ficarem sozinhas.

Tem algo muito errado nisso aí...

7.10.11

PAIS E FILHOS

Preciso terminar meu cigarro antes que aquele meu Super Filho Politicamente Correto apareça e comece a me chatear por eu ter cedido logo a esse péssimo hábito humano...
Jor-El, num rápido smoke-break.