25.3.09

Os homens ficcionais de minha vida

Falem o que quiserem os psicologicizados de plantão, mas todo mundo tem, teve ou ainda terá pelo menos uma vez o desejo de que fosse possível um personagem ficcional – seja de uma série, de um filme, de um livro ou de um quadrinho – criar vida e interagir com o (a) sonhador (a) seja de que forma for.

Pessoas há que certamente têm esse desejo mas o acham inconfessável, talvez por parecer coisa de criança ou de desajustado. Eu, como tenho ambas características desde que me entendo por gente, nunca refreei meu Pigmaleão interior e fui colecionando, ao longo do tempo, alguns
amores bidimensionais.

Acompanho o altamente recomendável Blog do Amer (
http://blogdohammer.blogspot.com), escrito por um jornalista expert em games que também é um nerd cheio de opinião; nele, Amer volta e meia publica divertidas listagens de seus 10 Mais de variados gêneros. Então resolvi, num plágio bem intencionado, rememorar esses meus tais amores bidimensionais e fazer meu próprio Top Ten.

Todavia, esbarro em minha natural falta de objetividade e descubro que não tenho condições de fazê-lo. Primeiro, porque existem mais candidatos do que vagas para a listagem e meu coração não me permite excluir ninguém; segundo, esses seres ficcionais já fazem parte do meu cotidiano imaginário há tanto tempo que não podem mais ser classificados em lugares.

Assim, me pareceu melhor listá-los em ordem alfabética (quer sistema mais lógico e isento?) e, com isso... Eis os homens ficcionais de minha vida!

Angus MacGyver

Até hoje – e olhe que lá se vão águas – me recordo da chamada da Rede Globo: nesta segunda você vai conhecer... MacGyver! E, de repente, sob os acordes de Tom Sawyer, do Rush, o mundo se transformava numa inesgotável caixa de ferramentas a céu aberto.

Essa alegria permaneceu ao longo dos anos em que Profissão: Perigo foi exibido, sobrevivendo aos altos e baixos da grade de programação da emissora.

MacGyver tornou-se uma paixão, perfeitamente encaixado em minha época de juventude pós-adolescente: inteligente, multifacetado, descolado, dono de jipe, mal vestido posto estiloso, cabelo comprido, mãos grandes e bem formadas, pé na estrada... Em suma: um 007 casual com quem seria maravilhoso sair por aí salvando o mundo com rolos de barbante, fita crepe, clips e um canivete, aprendendo um bocado de coisas sobre os mais variados assuntos e ainda tendo tempo para namorar ao pé de uma fogueira numa noite estrelada e fria em algum ponto obscuro do mapa-múndi.

Melhor que isso, meu bem... impossível!

Bruce Wayne – Batman

O Homem Morcego me acompanha desde a infância, seja em quadrinhos, filmes ou aquele seriado surreal de TV, onde para mim tudo começou.

Lembro-me perfeitamente de que enquanto minhas colegas queriam estar com Robin, eu queria mesmo era estar no lugar dele, ajudando Batman a distribuir socs!, tums! e pofs! naquele bando de pérfidos malfeitores que aterrorizavam Gotham, e ainda poder passear de Batmóvel, aquele puta Lincoln Futura 1955! Isso é que era vida!!

Com o passar do tempo, o seriado surreal cedeu lugar às publicações que exploravam o outro lado do herói, o homem atormentado que arrisca a própria vida para proteger sua cidade e evitar que outras pessoas sofram o que ele mesmo sofreu: a perda de entes queridos em um ato de violência.

Bruce Wayne é praticamente senhor e possuidor de Gotham, um porrilhardário que poderia viver só viajando, curtindo e comendo a mulherada; porém, ele abdicou voluntariamente disso tudo em nome de uma causa, pelo bem estar de uma coletividade que não lhe dá o devido valor.

Francamente: é impossível não amar esse homem.


Capitão Nemo

Este misterioso e fascinante protagonista criado por Julio Verne me acompanha desde a pré-adolescência e influenciou de forma direta e relevante minha forma de encarar o mundo e a sociedade.

Nemo e seu magnífico Nautilus também foram meus bastiões contra uma realidade pessoal que, à época, era absolutamente desagradável. Mergulhar nas profundezas do oceano seguindo o Capitão Nemo onde quer que fosse, presenciando maravilhas e perigos jamais vistos, por mais louco que seja, foi o que me manteve viva e com o mínimo de sanidade exigida para as necessidades diárias naqueles tempos difíceis.

Já li e reli 20.000 Léguas Submarinas e A Ilha Misteriosa incontáveis vezes. Vários aspectos dos livros receberam atenção diferenciada de acordo com a época em que os retomei; todavia, um aspecto é imutável: a profunda admiração que nutro pelo singular capitão do Nautilus, cujo inabalável senso de justiça e liberdade, rechaçado pela intolerância, levou-o a não mais ter lugar entre os homens, afastou-o do solo amado e dilacerado de sua pátria e impeliu-o ao juramento de que, enquanto vivesse, não mais poria os pés em terra firme.

Pouquíssimo do passado de Nemo é revelado em 20.000 Léguas; tudo o que conseguimos captar são as impressões contraditórias do professor Pierre Aronnax, sidekick de alto nível que, como o próprio leitor, se divide entre a admiração e o temor por aquele indivíduo bem educado, culto, versado em artes, línguas e ciências, filósofo, musicista, que pode ser tanto comandante como amigo, tanto amigo quanto algoz.

Nunca Ninguém foi dotado de tamanha personalidade.


Dan Dreiberg – Nite Owl II

Ok, Watchmen está mais atual do que nunca por conta de sua excelente adaptação cinematográfica, mas a presença de Nite Owl nesta lista não se deve a isso. Faz quase dez anos que pousei os olhos em Dan Dreiberg pela primeira vez e desde então não mais o esqueci.

Infelizmente, li Watchmen de forma errada: com sofreguidão e fora de época. Hoje percebo que várias referências de Mestre Moore me escaparam e a sofreguidão me permitiu guardar apenas impressões: que aquela graphic era uma das melhores coisas que eu já lera na vida, que Rorschach era um personagem fascinantemente aterrorizante e que o Coruja...

Ah, o Coruja!...

Dan Dreiberg é quase um Bruce Wayne nerd. Filho único de um banqueiro, tímido, solitário e sonhador, cresceu estudando astronomia, ornitologia e mitologia. Quando o primeiro Coruja – Nite Owl, para ser mais fiel – se aposentou, Dan tomou seu lugar, usando tecnologia para auxiliar no combate ao crime. Aperfeiçoou seu uniforme e construiu uma nave, que batizou de Archimedes – tão-somente a coruja do Mago Merlin.

Eu quero.

Porém, mais do que um nerd fofo, Dan é um personagem que, dentro de Watchmen, induz o leitor à reflexão. Ele é um homem insatisfeito, saudoso de sua identidade secreta e forçadamente amordaçado em sua identidade civil. Sente-se envergonhado por respeitar a Lei Keene e covarde por temer o assassino dos mascarados, ainda que esse medo espicace sua vontade de reassumir Nite Owl...

Junte-se a isso que Dan é o único dos Watchmen merecedor de confiança e gratidão do mais temível dos integrantes do grupo, e só por isso ele já merece todo o respeito do mundo. Porque não é qualquer um que tem bolas suficientes para ser amigo de alguém como Rorschach e sobreviver a isso.


Data

Mea culpa, mea maxima culpa: quando ouvi falar em Star Trek: The Next Generation, o germe de fã putinha que trago em mim sob austera vigilância pôs-se a resmungar:
Não, Precioso, fuja disso! É coisa feita só por dinheiro, Precioso, não presta! Produtores maldosos! Eles mente, meu Precioso, eles mente...

Entretanto, pensei, aquela fanfarra da abertura é tão cativante... O Grande Pássaro da Galáxia está na produção... A Enterprise é e sempre será a Enterprise... Não custa nada dar uma espiadinha para ver qual é.

E então deito súbito meus olhos num intrigante ser de origem positrônica, pele dourada e olhos ambarinos que ocupa os lugares de Tenente Comandante e Oficial de Ciências da nave. Em suas horas vagas, além de ler Shakespeare e Conan Doyle, pintar, desenhar, poetar, cuidar de uma gata rajada, tocar violino e jogar pôquer, ainda quer compreender e apreender o que é ser humano.

Lançai as pedras! Pois me apaixonei perdida e irrevogavelmente.

Eu poderia passar minha vida inteira ao lado do Tenente Comandante Data. Sim, ele não é capaz de sentir emoções, mas, paradoxalmente, é dotado de uma sensibilidade incomum absolutamente (re)compensadora. Mais: em se observando sua gentileza, seu altruísmo, seu respeito por todas as manifestações culturais, sua sinceridade lógica muito similar à vulcana, sua curiosidade em descobrir o porquê e o para quê das coisas, bem como o mecanismo das emoções humanas, chega-se facilmente à conclusão de que este este Homem de Lata tem muito mais coração do que muitos poços de insensibilidade revestidos de carne e osso que circulam por aí.

Se a doçura pudesse ter nome, Data seria ele.

Erick Magnus – Magneto

Se eu pudesse escolher um pai fictício, não pensaria duas vezes: escolheria Erick Magnus.

Mesmo porque, para afirmar a escolha, eis um caso onde a vida segue o sonho: foi justamente Magneto quem me aproximou de minha Manya Katchoo.

Entrei em contato com os X-Men muito tarde, exatamente na idade em que se é compelido a achar quadrinhos coisa de criança ou de gente à toa e onde o Mercado e a Idade e a Sociedade estão nos empurrando para frente e rosnando em nosso ouvido: Abandone agora
essa merda toda e vá ser Um Vencedor! O Mundo quer você!

Entretanto, como sempre fui do contra e irremediavelmente nerd, ergui o dedo médio de uma mão meio trêmula para esse discurso positivista e mergulhei no perigoso e fascinante mundo dos Mutantes, dividindo-me claramente entre a inclusão de Xavier e o separatismo de Magneto.

Por algum tempo acreditei na tese de Xavier, mas confesso que depois desisti. É impossível manter humanos e mutantes convivendo em paz e harmonia, pois isso não existe numa relação onde há medo, inveja e desconfiança. Os mutantes até podem dar uma mãozinha aos humanos facilmente extermináveis e perecíveis, mas não têm obrigação de os proteger e nem de aturar preconceitos e aporrinhações. Eles já lidam com seus próprios conflitos específicos pessoais e coletivos e, conforme a sabedoria popular, cada um com seus problemas. Por esse motivo, a tese de Magneto me pareceu – e até hoje me parece a mais lógica: tratar com desigualdade os desiguais e cada um de acordo com suas especificidades.

Esse é o Magneto – profundamente atormentado e preocupado com o futuro de seus semelhantes que perigam sofrer atualmente o que outrora ele mesmo sofreu em campos de concentração nazistas – que aprendi a admirar e, mutante, a quem chamaria de pai e a quem seguiria, sobretudo se fosse para o Asteróide M.

Pena que os roteiristas vez em quando sofram de um estranho surto psicótico capaz de levá-los a destruir num átimo tudo de genial que se construiu ao longo do tempo; que o digam (argh!) a Saga do Clone, os implantes de memória e A Quebra do Morcego. Magneto também não escapou; transformaram-no de um respeitável e filosófico líder de seres discriminados em um clone de George Bush, um desequilibrado portador de complexo de inferioridade temperado com fobia de humanos, que explode coisas e pessoas pelo mundo para chamar atenção para o quanto ele é foda. Por favor, convenhamos!


Fox Mulder

Este indivíduo despertou em mim nos anos 90 exatamente aquilo que Erick von Däniken o fez nos anos 80, quando fiz meu contato imediato com Eram os Deuses Astronautas?: a curiosidade irrefreável e inconformista sobre a vida, o universo e tudo o mais.

Tudo bem que a resposta é 42, mas, de onde você tirou isso? Como chegou a essa conclusão? Tem certeza de que é isso mesmo? Você não está apenas me acalmando e fechando meus olhos para algo maior que você não quer de jeito nenhum que eu veja, sequer desconfie? Para a verdade que está lá fora, mas que quase ninguém vê?

Isso é Fox Mulder. É dúvida. Especulação. Inconformismo. Perseverança. Teimosia. Coragem. Determinação. A extraordinária capacidade de incomodar, de questionar, de prosseguir a duras penas quando todos já desistiram ou deixaram de acreditar.

Mulder é inteligente, expert em sua área, um dos melhores e mais capazes agentes do FBI; podia muito bem ligar o foda-se para essa história de verdade e passar a vida tirando onda, carteirando marmanjos e pegando a mulherada numa boa. Mas, não: ele suporta piadinhas e desprezo, se enfurna no porão do prédio e remexe corajosamente o lodo não apenas para aporrinhar seus superiores, mas sim para perseguir, a qualquer preço, aquilo em que ele mais acredita: a verdade.

Só isso já é suficiente para se querer segui-lo até mesmo à puta que pariu.
Lembremos ainda que é homem que honra as bolas que a natureza lhe deu: em vez de satisfazer seu ego com uma garotinha deslumbrada, ele escolheu amar uma mulher inteligente, bem sucedida, com opinião própria e cheia de personalidade. Isso é que é homem!

Heathcliff

Este personagem absurdamente misterioso e intenso invadiu minha adolescência como uma tempestade e até hoje, mesmo depois de tanto tempo, ainda é capaz de me arrebatar irracionalmente a cada releitura de O Morro dos Ventos Uivantes.

Heathcliff é uma força da natureza e, como tal, pode ser belo e terrível, gentil e agressivo, bondoso e cruel. Com ele não há meio termo: amor é amor, ódio é ódio, e indiferença é uma palavra inexistente em seu vocabulário. Arrebatado por um amor que beira a loucura, por ele se deixa consumir até a morte.

Eu mentiria se dissesse que gostaria de viver algo assim; é intenso demais, perigoso demais... fascinante demais. Todavia, quando a vida parece absurdamente cinza, insossa e inodora, a tempestade telúrica e viril de Heathcliff faz ressurgirem as cores, os sabores e os odores, ainda que em pinceladas saturadas, em temperos picantes e em aromas almiscarados.


Pegando emprestado um verso de Maiakovski, Heathcliff é agudo e necessário como um estilete pros dentes.

Henry Jones Jr, Dr.

A comparação que farei é patética, mas pertinente: o Dr. Jones Jr. é como um Kinder Ovo. Você começa com um respeitável professor universitário de Arqueologia, mas, quando abre essa embalagem, surpresa!: surge um destemido aventureiro que atende pelo nome de Indiana, ou apenas Indy, dependendo do grau de intimidade alcançada no decorrer da aventura.

Indiana Jones é como uma deliciosa chuva de verão numa tarde insuportavelmente quente. Sedutor, inteligente, habilidoso (não é qualquer um que maneja um chicote), estiloso (o que é aquele chapéu?), corajoso até a temeridade, dispensa mais explicações para justificar o quanto é desejável.

Dou minha cara à tapa se até a mais convicta das feministas, nem que seja por um breve instante, não sentiu vontade de estar perdida em uma selva, pendurada num abismo ou metida em qualquer situação surreal onde pudesse berrar Iiiiiiinnnnndddddyyyyyy!! a plenos pulmões e ser prontamente atendida!

Jesus que tome conta.

John C. Raffles

Também conhecido como O Ladrão Elegante, este fora-da-lei inglês absolutamente sui generis foi idealizado por Ernst William Hornung, que por acaso era cunhado de Conan Doyle, o pai de Sherlock Holmes (este, Senhor e Possuidor de todo o meu respeito ultra-super-tecnológico).

Descobri Raffles por mero e feliz acaso, escolhendo como brinde dois de seus pockets em um pedido razoável que fiz à Ediouro há uns 300 anos atrás. Li as sinopses, achei simpáticas e pedi os livrinhos. Eram de graça, mesmo...

Porém, quem poderia me preparar para a deliciosa surpresa de ser apresentada ao corajoso e destemido Lord Edward Lister, filho de um nobre irlandês e de uma princesa indiana, que utiliza seu título de nobreza e o acesso por ele proporcionado à alta sociedade londrina do final do século XIX para promover um bocado de justiça social?

Sim, porque o belo Lord Lister, como um herdeiro de Robin Hood, identifica os nobres e os ricos cretinos que sacaneiam os pobres e os faz pagar por isso; assumindo a identidade secreta de John C. Raffles, Edward lhes alivia cofres, bolsos e contas bancárias em favor dos espoliados e oprimidos. E, de quebra, ainda enrola o arrogante e inepto Inspetor James Baxter, da Scotland Yard.

O mais extraordinário em Raffles é que todo o terror que ele causa nos inescrupulosos passa longe de armas, ameaças de morte ou ofensas físicas. Extremamente articulado, inteligente e sedutor, Lord Lister enrola os inimigos em planos engenhosos e os faz dançar ao som de sua flauta sem que eles sequer se dêem conta disso – a não ser, claro, quando já é tarde demais, o que torna tudo ainda mais delicioso de se acompanhar.

Edward tem um sidekick chamado Charles Brand, que também faz as vezes de seu escriturário. E é justamente no lugar dele que qualquer um que leia as aventuras de Raffles daria qualquer coisa para estar!

Logan – Wolverine

Ele é baixinho, invocado, arrogante, facilmente irritável – como já disseram certa feita, é nitroglicerina pura. Como Heathcliff, é uma verdadeira força da natureza e tem orgulho disso: afinal de contas, ele é reconhecidamente o melhor no que faz. É, ainda, quase imbatível e indestrutível.

Ok, muito bem. Mas, o que há de atrativo nisso?

A liberdade. A segurança. Logan faz o que lhe dá na telha a hora que quer, do jeito que quer e, se não quiser, foda-se. De vez em quando bate uma solidão, uma tristeza, uma sensação de estar há tempo demais no mundo, sempre em movimento, onde qualquer lugar é lugar... Mas isso é passageiro: respira-se fundo, abrem-se umas cervas, distribuem-se umas boas porradas nos babacas de plantão e tudo volta ao normal.

Se, porém, a solidão ainda apertar mais um bocado e o batidão não for o suficiente para resolver... estamos aí.



Marius de Romanus

Convenhamos: em toda lista que se preze há um Filho da Noite. É inevitável. Mesmo que não se queira, mesmo que de todas as formas se tente evitar, não há como restar incólume ao fascínio desses seres tão poderosos e tão miseráveis... Certamente pelo menos um vampiro sempre há de merecer lugar no imaginário de alguém.

Quem me conhece sabe (e até me ridiculariza por isso, às vezes) que tenho uma grande identificação com Louis de Pointe du Lac, criação de Anne Rice. Todavia, não é Louie meu escolhido, pois há alguém superior que merece toda a minha admiração e, caso possível, talvez até minha eternidade: Marius de Romanus.

Este outro filho de Rice, a meu ver o maior, é um respeitado historiador da Roma Antiga que foi tomado como perfeito sucessor para um deus que nada mais era do que um vampiro. Uma vez transformado em um Filho da Noite, o extraordinário, genial e apaixonado Marius manteve suas atividades de historiador e de promotor das artes, adaptando-as à sua nova condição e ampliando sua abrangência através de suas habilidades vampíricas.

Marius radicou-se primeiramente em Veneza, e ali se tornou não só mecenas como também um preservador e disseminador de cultura. Sua sensibilidade natural para a história e a arte tornou-se ainda mais sutil com a imortalidade, e isso o auxiliou a atravessar os séculos com menos pesar e desespero do que os demais vampiros. Em sua opinião o gênio humano nunca se tornará estéril e, por mais que a humanidade se aperfeiçoe na triste arte de destruir, sempre será maior e mais viva sua habilidade de construir e de criar e recriar o belo.


Preciso dizer mais alguma coisa?

Maximus Decimus Meridius

Sei que é difícil, quase impossível, mas esqueçamos Russell Crowe por um breve momento. Falarei aqui apenas de Maximus que, sem sombra de dúvida, é a perfeita encarnação do herói trágico.

O que há de tão extraordinário no general traído que se tornou um escravo e depois um gladiador? Muito simples: ele é, apenas e tão somente, um homem sério, compromissado, de palavra. Um homem que honra magistralmente as bolas que a natureza lhe deu.

Enquanto general, combatia não para colecionar glórias ou despertar inveja, mas para defender aquilo que julgava certo em seu idealismo e a quem dedicava lealdade à toda prova: sua pátria, sua família, seus deuses. Foi por essa lealdade que se recusou a aceitar uma autoridade desprezível, que a desafiou e, por isso, traído, quase pereceu. Também foi por essa lealdade que buscou reparação e se deu em sacrifício na defesa daquilo e daqueles por quem sempre lutou.

Maximus é homem de palavra, corajoso, honrado e destemido: é Homem Que É Homem.



Severus Snape

Quando J. K. Rowling me apresentou, mais ou menos na metade de Harry Potter e a Pedra Filosofal, ao Professor de Poções de Hogwarts e Diretor da Casa Sonserina, foi fácil perceber por quem eu me inclinaria no decorrer da saga do bruxo da cicatriz.

Severus Snape é fascinante pelo que oculta. Tudo nele é misterioso, dúbio, oblíquo. O desleixo de sua aparência, a frieza, o passado obscuro, o temperamento intratável só aumentam o desejo de se descobrir mais sobre este bruxo cujos profundos olhos negros só perdem para o abismo de Molasar – ou Rasalom, você escolhe por sua conta e risco.

Impossível não identificá-lo com a figura de Heathcliff. Por mais que Severus seja mais contido e sutil, seu temperamento é tão ciumento, visceral e intenso quanto; o que os diferencia é apenas a capacidade de dissimulação, que é patente no bruxo mas inexistente no protagonista de Wuthering Heights.

Snape é como o Monte Fuji: isolado, inexpugnável, coberto por neves eternas... mas internamente consumido por uma paixão que, extravasada, consumiria Hogwarts inteira.

Só isso já faria valer a pena vagar pelas Masmorras em busca de conhecimento, segredos e revelações...

O austero e profundo Professor de Poções, Diretor da Sonserina e Comensal da Morte é, sem sombra de dúvida, o melhor personagem da saga de Harry Potter. Todavia, em minha opinião não-entendida, poderia ter sido muito mais bem explorado por J. K. Rowling se, ao final da história, ela não tivesse sido acometida daquele surto psicótico-destruidor dos roteiristas de quadrinhos e transformado uma excelente idéia numa piada de mau gosto.

Ou, então, se Rowling tivesse ousado ter a coragem de honrar suas bolas de escritora e conferido a Severus o status que um personagem com a sua complexidade clamava – e indiscutivelmente merecia alcançar.

Leia, pense e você irá compreender onde quero chegar, jovem padawan...


Spock

Mais do que trekker, sou profunda e confessa admiradora dos Vulcanos – ainda que meu temperamento, malgrado meu, seja notoriamente klingon.

E, mais do que qualquer vulcano, Spock é aquele que merece o título de Número Um. Kirk?!? Que Kirk? Servisse eu na Enterprise, seria apenas de Spock minha obediência.

Lógico, direto, ponderado, o maior dentre os vulcanos mostra o caminho mais certo a ser seguido; some-se a isso a admiração causada por sua profunda inteligência, sua inesgotável curiosidade científica, seu respeito por todas as manifestações culturais intergalácticas, seu extraordinário controle sobre as emoções e seu vasto conhecimento das tradições de seu povo.

A convivência com um ser deste nível passa longe de ser fácil, mas decerto seria uma experiência absolutamente... fascinante – e indeclinável.

Tygra

Para falar deste singular Thundercat, híbrida perfeição humano-felina, necessário citar, mesmo en passant, os versos de William Blake: Que espada, que astúcia foi capaz de urdir as fibras do teu coração?

Para manter minha (involuntária, juro!) tradição de ser do contra, o poderoso Lion, líder dos gatos mais destemidos do Universo, nunca chamou minha atenção. Para mim, ele é uma versão felina e melhorada de He-Man, e só.

Meu olhar, desde quando vi Thundercats pela primeira vez, foi completamente capturado por um tigre. Um magnífico e elegante felino, inteligente, discreto, sutil, cujas habilidades de engenharia, ilusionismo e invisibilidade o tornam um companheiro de batalha de grande valor, mas também o tornariam um inimigo altamente letal e perigoso caso optasse por seguir os desígnios maléficos dos Antigos Espíritos do Mal...

Pode ficar sossegada, Cheetara. Lion é todinho seu, obrigada.


Vingador

O quê?!? O pesadelo dos garotos de Caverna do Dragão nesta lista?!? Absurdo!

Concordo, mas é verdade. Vingador tem seu lugar aqui, e não é de hoje.

Talvez algum desvio de personalidade que faria a alegria dos sempre industriosos analistas de plantão justifique minha inclinação por vilões ou por anti-heróis. Há neles algo de fascinante, de singular, que espicaça minha curiosidade. Talvez também haja em mim a semente de uma analista de plantão, uma vez que o mistério dionisíaco que ronda o passado, as escolhas e as atitudes suspeitas de alguns vilões leva minha curiosidade a audaciosamente especular onde nenhuma curiosa jamais esteve.

Minha primeira impressão de Vingador foi de puro impacto visual: as asas de morcego, a veste exótica e rubro negra (aeeeeee!), a lua minguante, as presas, as grandes mãos, o olhar... E, claro, o bom gosto para montarias, pois aquele magnífico corcel negro alado é simplesmente espetacular.

Com o passar do tempo, o meramente visual despertou novas percepções: Vingador não é um babaca qualquer que quer sentar-se no topo o mundo e matar o tempo sacaneando adoráveis aborrecentes perdidos em sua faixa dimensional. Ele é um mago poderoso, articulado e inteligente – tanto que a estratégia de seus planos é sempre certa, perturbada apenas pelas contingências imprevisíveis que auxiliam os meninos e que ele não é capaz de evitar. Tem o porte altivo de um comandante acostumado a ordenar e ser obedecido, fora o fato de que é invejado e temido por todos os magos e feiticeiros menores. Um merda sem cérebro e sem bolas não faria jus a todo esse respeito.

Há uma fascinante aura de mistério ao redor de Vingador. Quem é ele, realmente? Sua origem? Terá sido sempre um ambicioso conquistador, ou um mago cavaleiro caído em desgraça? O que realmente existe por trás de todo aquele medo de Tiamat? A que nível pertence a disputa de poder travada ponto a ponto entre Vingador e aquele Velho filho da puta? Que tipo de coisas Demônio das Sombras ouve e espia enquanto desliza, furtivo, pelos cantos escuros daquele Castelo nas altas escarpas?...

A animação ficou em aberto, e rola pela Internet o roteiro do último episódio nunca produzido (acho), onde todas as respostas são dadas. Um dia o lerei. Por enquanto, prefiro ficar com as minhas próprias especulações sobre este ser tão intrigante quanto aterrorizante... o misterioso Vingador.

Bem, é isso. Como toda lista de preferências, esta obedece ao gosto de quem a elaborou. Muitas vezes não coincidirá com a opinião de quem vier a ler, mas... acho que vale a diversão. Quem quiser comentar, esteja à vontade!

Até a próxima!