9.6.09

A Maracutaia é de Antanho


Enquanto lia o interessante 1808, de Laurentino Gomes, deparei-me com situações que julgava típicas apenas de nossos tempos atuais, mas que, desgraçadamente, vêm desde as priscas eras de Dão Jão VI.

A idéia que se tem, em tese, é aquela do aperfeiçoamento do homem com o passar do tempo, onde ele observa suas práticas, mede o alcance, os benefícios ou malefícios dessas mesmas práticas e as adapta para o bem comum ou então as descarta como inadequadas ou imorais.

Recorro ao meu estimado amigo Logan para retrucar esta teoria: Tu bebeu?

Pelo que vejo, acorde com o narrado no livro de Gomes, o brasileiro conseguiu adaptar esta teoria de uma forma bastante peculiar, através do aperfeiçoamento gradual da então Corrupção que infestava a Administração Pública do Brasil do século XIX até chegar à Maracutaia dos Tempos Atuais.


Acho que, numa espécie de deboche – porque ninguém como o brasileiro sabe ser engraçadinho em horas que não convém -, os corruptos aproveitaram o ocorrido no Direito das Coisas para promover a evolução da Corrupção à Maracutaia: assim como os juristas aproveitaram e aperfeiçoaram os Institutos Romanos para a realidade moderna, nossos diletos ladrões de colarinho engomado fizeram o mesmo com certas práticas adotadas pela Coroa, estendendo-as aos nossos dias e causando em quem ainda possui nem que seja uma gota de honestidade um constrangedor dèja-vù.

Os fatos falam por si:


O historiador Luiz Felipe Alencastro conta que, além da família real, 276 fidalgos e dignitários régios recebiam verba anual de custeio e representação, paga em moedas de ouro e prata retiradas do tesouro real do Rio de Janeiro. (...) Um dos padres recebia um salário fixo anual de 250.000 réis – o equivalente hoje a 14.000 reais – só para confessar a rainha.

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Outra herança da época de D. João é a prática da caixinha nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos. O historiador Oliveira Lima, citando os relatos do inglês Luccock, diz que se cobrava uma comissão de 17% sobre todos os pagamentos ou saques no tesouro público. Era uma forma de extorsão velada: se o interessado não comparecesse com os 17%, os processos simplesmente paravam de andar.

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No Brasil, Azevedo (Joaquim José de Azevedo, administrador de compras e estoques da casa real) enriqueceu tão rapidamente e teve sua imagem de tal modo ligada à roubalheira que no retorno de D. João VI, em 1821, foi impedido de desembarcar em Lisboa pelas Cortes portuguesas. A proibição em nada perturbou sua bem-sucedida carreira. Ao contrário. A família continuou enriquecendo e prosperando depois da independência.


E, completando este último dado, Laurentino Gomes ainda nos dá o golpe de misericórdia ao informar que o ilustre supracitado corrupto, em reconhecimento pelos serviços prestados à Coroa, foi promovido de Barão a Visconde por D. João VI!

Ora, pipocas!!

Por um breve momento imagino uma realidade alternativa onde tivéssemos retornado à Monarquia; pelo Eterno, quantos Viscondes, Barões, Condes e Marqueses da Maracutaia não veríamos flanando, janotas, pelas calçadas!... E, mantendo o crossover com o passado, poderíamos aproveitar os versinhos populares que corriam pelo Rio de Janeiro de mil oitocentos e inhame:

Quem furta pouco é ladrão
Quem furta muito é barão
Quem mais furta e esconde
Passa de barão a visconde.

Oh! Vergonha!!!! Onde estás, que não respondes????

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