Aos olhos da sociedade, e isso vem de mim, dou a impressão de ser apenas um dândi diletante – é imprudente mostrar seu coração ao mundo. Ora, assim como maneiras sérias são o disfarce do tolo, a extravagância com ares de trivialidade, de desenvoltura e de indiferença é o disfarce do homem sério.
Numa época tão vulgar como a nossa, todos precisamos de máscaras.
Nesta mesma data, no ano de 1854, nascia em Dublin o extraordinário Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde.
Controverso, paradoxal, provocador, Oscar Wilde não temia ser diferente, ter seu próprio estilo, defender publicamente suas idéias consideradas imorais e arrogantes pela sociedade vitoriana em que era obrigado a viver.
Dotado de prodigiosa inteligência, dificilmente acompanhada por seus pares, Wilde era versado em línguas antigas, filosofia, arte e poesia. Sua sensibilidade aguçada o levava sempre em direção ao bom gosto, à delicadeza e à cultura. Amava as flores – principalmente os lírios –, os tecidos finos, a boa mesa, as companhias inteligentes e estimulantes. Chegou a ser adorado, adulado e endeusado pela sociedade londrina – a mesma que o atirou à Justiça e ao cárcere, anos depois, acusado de atentado ao pudor por ser homossexual.
Arruinado tanto moralmente como financeiramente, doente e deprimido em virtude dos dois anos em que esteve encarcerado, Oscar Wilde morreu em Paris, sozinho e na miséria, aos 46 anos. Porém, com o passar dos anos, suas obras foram “redescobertas” em toda a sua genialidade e beleza, e o nome de Wilde foi reabilitado – de certa forma mais no contexto social, porque aqueles que conheciam sua arte e seu gênio nunca deixaram de admirá-lo como artista.
Para mim é extremamente difícil escrever sobre Wilde algo que eu considere à sua altura; por isso, para quem desejar conhecer melhor sua vida, seu pensamento e sua arte, recomendo a leitura da biografia Oscar Wilde, escrita por Daniel Salvatore Schiffer e lançada pela L&PM, e também das próprias obras de Wilde, desde o famoso O Retrato de Dorian Gray até o pungente De Profundis, escrito enquanto esteve confinado na Prisão de Reading.
E, por fim, deixo que o Poeta fale por si:
Tratei a arte como a suprema realidade e a vida como uma mera ficção. Despertei a imaginação do século em que vivi, para que criasse um mito e uma lenda em torno de minha pessoa.
O amor é alimentado pela imaginação, através da qual nos tornamos mais sábios do que sabemos, melhores do que nos sentimos, mais nobres do que somos, capazes de ver a vida como um todo; através da qual, e só através dela, chegamos a entender os outros tanto em sua relação real quanto ideal. Só o que é superior e superiormente concebido pode alimentar o amor, mas qualquer coisa alimentará o ódio.
Lamentar as experiências vividas é uma forma de impedir o próprio desenvolvimento. Negá-las é colocar uma mentira nos lábios da própria vida. É nem mais nem menos do que a negação da alma.
Pois assim como o corpo é capaz de absorver toda espécie de coisas, tanto as mais vulgares e impuras quanto aquelas que um sacerdote ou uma visão tenham purificado, convertendo-as em atividade ou força, no movimento de belos músculos e na moldagem da carne mais delicada, nas curvas e cores do cabelo, das pálpebras, dos olhos, assim também a alma possui funções nutritivas e pode transformar em nobres sentimentos e paixões elevadas coisas que seriam, por si mesmas, baixas, cruéis e degradantes. E, mais ainda, pode encontrar nelas suas mais grandiosas formas de afirmação e muitas vezes revelar-se com mais perfeição através daquilo que pretendeu denegrir ou destruir.